quarta-feira, 18 de maio de 2011

O Soldadinho e a Bailarina




Naquela bonita manhã de Natal, o André saltou da cama como uma flecha, pois os pais tinham-lhe dito, antes de ele ir deitar-se, que à noite iria acontecer um momento muito especial. Como é de esperar, o menino ficou logo com os olhos a brilhar, quando descobriu que naquela noite, o Pai Natal e suas renas viriam de muito longe, desceria pela chaminé e deixaria no seu sapatinho, um presente só para ele.
Mal o dia amanheceu, ainda em pijama e descalço, dirigiu-se à chaminé em bicos de pés para não acordar os pais, e... lá estava, mesmo em cima do seu sapatinho, um belo e bonito embrulho, enfeitado com um lindo laçarote de cor doirada.
Cheio de alegria, pegou logo no embrulho e levou-o para o quarto dos brinquedos, onde uma vez sozinho se pôs a descobrir o seu precioso tesouro. Uma vez a salvo dos ralhetes da mãe, por ainda estar em pijame, descalço, despenteado, enfim... rasgou euforicamente o papel de mil cores, com muitos bonecos de neve, sininhos e anjos, e ficou maravilhado a olhar para o que tinha na sua frente. Era uma caixa com cinquenta soldadinhos de chumbo, todos perfilados e muito sérios dentro dos seus uniformes impecavelmente limpos e bem vincados. Só que... de repente, um dos soldadinhos chamou a atenção do pequeno. É que, aquele soldadinho, não tinha uma perna.
O André ficou muito intrigado com este facto. Levantou-se, foi ao quarto dos pais, bateu à porta e entrou. Em seguida, mostrou o soldadinho diferente ao pai e perguntou:
- Paizinho, porque é que este soldadinho não tem as duas pernas como todos os outros?
- Porque com certeza, é um soldado muito valente, e por isso, numa batalha qualquer, por não ter medo de enfrentar o perigo, foi ferido com gravidade e por isso, perdeu uma das pernas.
- Mas ele vale menos por ser assim, paizinho?
- Não André, pelo contrário! È que agora ele tem de fazer as mesmas coisas que as outras pessoas fazem com duas pernas, como correr, saltar, apenas com uma. E olha André, repara como ele está sorridente por poder estar à beira dos outros companheiros.
O André logo passou a sentir grande admiração por aquele militar corajoso e daí em diante, em todas as suas batalhas, aquele soldadinho era um exemplo para todos os colegas de força de vontade e bravura.
Nesse dia, já muito à tardinha, depois de ter brincado com os seus soldadinhos, O André colocou o Soldadinho de Chumbo junto da bailarina russa, de quem ele tanto gostava. Vestida com o seu lindo fato azul de seda, com o seu sorriso discreto e um delicado rosto enfeitado por dois cintilantes olhos azuis, não passava despercebida a nenhum dos colegas do soldadinho, que a todo o instante, a cobriam de atenções e simpatias.
O que ninguém sabia naquela casa, era que aquele era um dia mágico, pois à noite, em homenagem ao nascimento do Salvador do Mundo, todos os brinquedos da Terra ganhavam vida.
Foi desta forma que, quando a noite caiu, o palhaço do circo, deu ordem para que a linda trapezista em cima do seu elefante Knuffi, abrissem a festa. A orquestra começou então a tocar lindas melodias, a todos contagiando com a sua música suave. Pouco-a-pouco foi-se espalhando por todo o quarto a alegria, a magia e a cor, alusiva áquela noite tão especial!
O Soldadinho de chumbo, com os olhos cheios de ansiedade, e o coração a bater-lhe muito forte dentro do peito, aproximou-se da sua eleita e ganhando um montão de coragem (mais do que para lutar numa batalha), convidou-a gentilmente para dançar. Passou um instante que ao Soldadinho, pareceu uma eternidade. Depois, ela deixou escapar um lindo sorriso e disse baixinho que sim.
O seu coração rejubilou de alegria, quando ela naturalmente acedeu ao seu convite e ambos deslizaram para o meio do salão.
Bailaram durante toda a noite e de tão felizes, nem deram pelo tempo passar. A noite voou e, quando o palhaço se dirigiu ao meio da festa e fez um sinal de silêncio, todos os participantes do baile, o olharam com grande surpresa.
Falou então para todos, com uma voz clara e serena:
- Meus queridos irmãos, tenho muita pena, mas agora a festa tem de acabar, pois o dia está quase a nascer e não podemos permitir que descubram o nosso segredo. Prestem atenção e oiçam como lá fora, os galos já saúdam com entusiasmo o despontar do astro rei. Peço-lhes portanto, que voltem aos vossos lugares de sempre. E não se esqueçam, que no próximo ano, ao apagar de todas as luzes, cá estaremos todos novamente, para juntos festejarmos o nascimento de Jesus Cristo, Aquele que veio em nome de Deus Pai, para semear a paz e o amor entre todos os Homens!

Sem comentários: