quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Um Sonho de Carnaval!








Havia já alguns dias, que Andreia contemplava com um lindo brilho no olhar, a montra da papelaria que ficava perto de sua casa, pois como o Carnaval já se aproximava, a Dona Gertrudes tinha-a enfeitado com muitos pacotes de fitas coloridas, máscaras das formas mais diversas, pistolas de água, varinhas de condão, e de todo um mundo de mil coisas, que tanto faziam sonhar a sua imaginação.
Cada vez que chegava àquele local, não podia deixar de reduzir o passo e quase sempre acabava por ali parar, nem que fosse só por um bocadinho. De entre tudo o que lá havia, o que mais admirava era uma belíssima fantasia de rainha, onde nem sequer faltavam o ceptro e a magnífica coroa dourada!
Ai, como o coração de Andreia lhe batia com força dentro do peito, ao imaginar que, se a mãe pudesse, talvez lhe oferecesse aquela fantasia para usar no Carnaval, como ela tanto gostaria!
Claro que a menina bem sabia que as coisas lá em casa não andavam muito bem no que dizia respeito às finanças da família, mas ainda assim, resolveu tentar falar com a mãe para ver o que ela iria dizer ao seu pedido.
Nesse dia à noite, quando a mãe voltou do trabalho, Andreia foi dar-lhe um beijinho como de costume e preparou-se para a ajudar a fazer o jantar para o pai e para o irmão mais velho, que daí a pouco tempo deveriam estar a chegar também.
Enquanto ia descascando umas batatas e ralando umas cenouras para a sopa, conseguiu ganhar coragem e falou à mãe sobre a linda fantasia que estava à venda na papelaria da Dona Gertrudes e de que ela tanto gostava.
A mãe, como sempre, escutou-a com toda a atenção e carinho e depois disse com um tom de certa tristeza na voz:
- Sabes minha filha, as coisas cá em casa não vão lá muito bem... O patrão do paizinho anda um bocado aflito com uns problemas que têm acontecido lá na empresa, mas em todo o caso, eu vou falar com o pai e depois tu pedes-lhe também, e se ele concordar... se a Dona gertrudes nos fizer uma atençãozinha no preço dessa fantasia, vamos lá a ver o que se pode arranjar...
Andreia ficou radiante com a resposta da mãe, pois bem sabia, o quanto ela se esforçava por tentar agradar a todos os membros da família e o quanto ela gostava de ver toda a gente satisfeita. Foi por essa razão que, mesmo ainda sem ela lhe ter dado a tão desejada prenda, a menina bateu as palmas de contente e deu um beijo no rosto da mãe em sinal de agradecimento.
Quando daí a algum tempo chegaram o pai e o irmão, Andreia tratou de pôr a mesa e ao jantar, apresentou ao pai já com um pouco mais de coragem e entusiasmo, o mesmo pedido que um bocadinho antes tinha feito à mãe.
Este olhou para a mãe que lhe acenou afirmativamente com a cabeça, e disse então à filhinha:
- Olha Andreia, como tu te tens portado bem e és aplicada na escola, no próximo Sábado a mãezinha vai então contigo à papelaria para saber o preço dessa fantasia e depois, se não fôr muito cara, ela compra-a para ti, está bem?
- Claro que sim e muito obrigada paizinho. A resposta da menina, o brilho do seu olhar e o luminoso sorriso que lhe aflorou aos lábios, evidenciavam claramente a imensa satisfação que sentia naquele momento!
Nessa noite, depois de deitar-se e adormecer teve um sonho muito bonito, no qual andou ainda a pensar durante os dias que faltavam até chegar o tão ansiado dia de Carnaval.
De repente, Andreia viu-se a passear num bosque muito frondoso e soalheiro, onde inúmeros passarinhos cantavam cheios de entusiasmo, deliciosas melodias. Ao longe, Andreia ouviu o som de águas correndo em grande quantidade, como se estivesse perto de um rio. Caminhou então em direcção ao lugar de onde vinha o som e depois de dar alguns passos nesse sentido, avistou ao longe uma clareira e apercebeu-se de que devia ali estar uma grande fonte de água límpida e cristalina, ou talvez fosse uma queda-de-água onde as águas corressem velozmente...
Como sentia grande curiosidade em ver o que era aquilo e o que estaria naquele local, apressou o passo para chegar mais depressa ao lugar que tanto lhe chamava a atenção. Mal entrou na clareira os seus olhos foram inundados de luz, de uma luz forte e brilhante, que ao princípio lhe fez pestanejar os olhos durante uns segundos. Depois acostumou-se e viu então uma linda fonte de água pura e cristalina, da qual brotavam sete jorros de água, que impelidos pelo vento suave, ora se entrechocavam ora caíam em direcções opostas numa grande superfície branca e ligeiramente ondulada.
Enquanto olhava fascinada para aquele maravilhoso cenário, apercebeu-se de súbito, de uma espécie de som de relâmpago que se fez ouvir por todo o local. Fitou o céu de imediato e, verificou então com espanto, que aquele estava límpido e sem nuvem alguma.
Observou então com mais atenção e correndo os olhos por todo o perímetro da fonte, avistou uma pequena capelinha, de onde uma linda Senhora a fitava cheia de terna doçura no olhar. Por alguma razão que não sabia explicar,  a menina sentiu-se logo presa pelo encanto daquela Senhora que lhe sorria com maternal bondade.
Adriana ouviu então uma voz muito suave que lhe disse:
- Minha filha querida, conduzi-te até aqui, porque há uma coisa muito importante que preciso de dizer-te e da qual jamais deves esquecer-te.
Adriana respondeu então numa voz cheia de solícita humildade:
- Pois não minha senhora, em que posso ser-lhe útil?
A amável Senhora falou então da seguinte maneira:
- Minha Filha, sei que queres muito ter aquela fantasia de rainha que viste na montra da papelaria, e desde já te digo que os teus pais vão poder oferecer-ta. Mas olha, procura sempre lembrar-te que qualquer rainha da Terra, deve procurar criar e desenvolver continuamente entre os seus súbditos, três valores fundamentais: em primeiro lugar, o amor a Deus e ao Próximo como a si mesmos, acima de todas as coisas; em seguida, esforçar-se por gerar e apoiar as condições de respeito, justiça e igualdade para que floresçam sempre a paz e a concórdia entre os Homens, como a mais bela de todas as flores; por fim, é fundamental que jamais se deixe vencer pelas tentações da vaidade, do egoísmo, da inveja e da maldade para não desiludir os seus súbditos e ser verdadeiramente amada por todos. Só agindo desse modo, ela reinará sempre no coração deles, rodeada de carinhosa ternura, estima e dignidade e poderá contar com o esforço e coragem de muitos para promoverem o desenvolvimento do reino que lhe foi confiado.
Adriana despertou então, pois sentiu que a mãe lhe afagava ternamente os cabelos e que já a chamava para que se arranjasse para ir para a escola. Mas, guardou bem no fundo do seu coração, as lindas palavras daquela Senhora, que a julgar pela sua Excelsa Beleza e Encantadora figura não podia ser outra senão a Rainha dos Anjos e dos Santos, de quem tantas vezes tinha ouvido falar nas suas aulas de catequese e que em sonhos a tinha vindo visitar e tão sabiamente aconselhar!



Sónia Queirós.

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